quinta-feira, 8 de abril de 2010

Jornal A Palmatória - "É o primeiro dia do resto da minha vida"

"É o primeiro dia do resto da minha vida"

Fazia sol e eu tinha uma camisa vermelha, cor que hoje praticamente não uso. É tudo o que recordo do meu primeiro dia de aulas no ciclo preparatório. Na altura devo ter achado que vivia uma mudança inacreditável, um passo de gigante que ia da escola primária, em que já dominava todos os cantos, a uma escola que não conhecia e em que me sentia rodeada de gente grande. Não vou dizer que parece que foi ontem, porque na verdade foi um dia de que já não me lembro muito. Sei que a preparação de mais um ano foi uma aventura. Comprar muitos cadernos, novos em folha. Ter um horário, mudanças de sala...

E vem-me à memória uma frase batida, a de Sérgio Godinho: "É o primeiro dia do resto da minha vida". Depois desse houve outros, porque a vida é mesmo assim. Feita de etapas. Frequentar a Escola C+S de Proença-a-Nova, hoje rebaptizada, foi de certeza uma das fundamentais. E porque em ocasiões de aniversário se desculpam lamechices, eu explico porquê. Ao contrário do que os mais desconfiados e cosmopolitas possam dizer, foi onde encontrei alguns dos professores mais interessados com que já me cruzei na vida. Onde tive das aulas mais participadas. Em que houve tempo para debater temas que pareciam nada ter a ver com a matéria.

E, já agora, porque foi ali que cresci. Que fiz alguns dos amigos que sei que vou manter para a vida, mesmo que passemos meses sem nos ver ou falar. Que participei nos bailes de finalistas. Nas récitas de finalistas. Que despertei para alguns dos problemas do mundo, o de Timor à cabeça. Que tive os primeiros namoricos. Que comecei a imaginar o que poderia ser quando fosse grande. Que vi o ‘Clube dos Poetas Mortos’ pela primeira vez e discuti com o professor de História o que é o bom professor. Que participei em concursos de Português e escrevi as primeiras histórias, algumas entretanto deitadas no lixo. Ou seja, que me fiz e me fizeram parte do que hoje sou, com outro tanto que entretanto lhe somei.

Sendo certo que a escola é o resultado de todos os que por lá passaram, alunos e professores, 25 anos não cabem em lado nenhum. São milhares e milhares de pessoas, sonhos, frustrações, amizades, lições, exames, nervos, discussões, críticas, rebeldes que se tornaram doutores. E o futuro? Esse é maior ainda. Porque as lições nunca acabam, os sonhos continuam, os desafios surgem uns atrás de outros. Atrás dos tempos vêm tempos. A escola será o que a tão falada globalização, as novas tecnologias, os novos programas, as novas metas europeias fizerem dela. Mas será, acima de tudo, o que nós quisermos fazer. Professores, alunos, funcionários e, porque não?, aqueles que já a deixámos, mas a quem ela nunca deixará.

Maria Inês Cardoso

Sem comentários:

Enviar um comentário